Vivemos na era da Indiferença, todos os dias nos deparamos com valores distorcidos sobre afeto. O que presenciamos são sementes lançadas de desafeto no solo da indiferença, ou seja, convivemos no nosso dia colhendo o fruto constante da indiferença, frutos gerados nas relações comerciais, nas relações profissionais, ministeriais, nas relações familiares, entre amigos de forma que passou ser um comportamento natural nas relações cotidianas.
Essas relações são atravessadas por indiferença nos comportamentos, “já não me importo em retornar ligações, dizer adeus em uma conversa de uma rede social, retornar um agradecimento de uma mensagem recebida afetuosa e carinhosa, agir de forma passiva e indiferente diante do afeto do outro”. Essa indiferença pode levar a transtorno de personalidade, pois você cria seu próprio espaço, os seus sentimentos são distorcidos, e isso poderá acarretar fortes caminhos a outras patologias. A depressão a doença da modernidade não está somente relacionada a uma sociedade plena de desafeto e de indiferença ao outro mais também está relacionada a uma desordem dos afetos, tal como é classificada pelos manuais de psiquiatria atuais. Reflexões de Virgínia Moreira (2009) estão baseadas no pensamento de Emmanuel Lévinas, e de novos estudos que surgiram na psicopatologia da contemporaneidade. Estes estudos apontam para crescimento de novas desordens de personalidade, um forte adoecimento psíquico para o individuo que é massacrado e atravessado pela ansiedade decorrente do cotidiano da pós-modernidade.
Em seus estudos anteriores Moreira(2001) aborda a depressão como a indiferença frente ao outro, caracterizada por uma sociedade desigual, individualista e consumista, fatores estes marcantes para o desenvolvimento da depressão, num pensamento critico de uma linha da psicopatologia clássica. Essa visão filosófica a depressão ganha um significado que é atravessado por um sistema sócio-cultural marcado pela ordem do desafeto, ou seja, pela indiferença narcísica para com o outro; um desligamento do seu interesse pelo o mundo exterior (pessoas), que é reforçado por uma sociedade que alimenta o delírio de grandeza supervalorizando o poder de seus desejos individuais.
Portanto a depressão ganha mais espaço em virtude deste esvaziamento significativo dos laços afetivos da vida humana, por uma substituição de valores morais que são atravessados por uma sociedade individualista, é caracterizada em nova dimensão de um contexto patológico. No entanto neste novo cenário do desafeto pelo o outro, da ausência de vínculos, da indiferença para diferença do outro, em uma sociedade de consumo, adoece o sujeito em seu hiper-individualismo; o outro é apenas um objeto de interesse próprio, um pensamento bem individualista, o que é importante nas relações é o que o outro poderá me oferecer, um discurso egocêntrico, enfim busca de meios para atingir seus fins.
Enfim, a cegueira social em uma sociedade doentia, desigual e injusta é atravessada pelos mecanismos de sobrevivência - não se deixa ser afetado pelo o outro, contribuindo para o desafeto. Neste sentido mais amplo a depressão ganha um novo significado, deixa de ser vista somente como uma doença dos afetos, passa ser também compreendida como uma “doença da ordem dos desafetos”, transformando-se em depressão e em outras patologias mentais, que impossibilita o indivíduo à re-significar e a reagir sua capacidade de viver de forma mais significativa os seus relacionamentos.
Patrícia Brasil.
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